Jesué Pinharanda Gomes será talvez o representante mais fronteiro (não necessariamente por vir da raia sabugalense, nos Quadrazais) e, poderíamos acrescentar, o mais pós-moderno do grupo de Filosofia Portuguesa. Intelectual laborioso, amante do saber, investigador nato, leitor compulsivo, pensador arguto e pletórico, fez um longo caminho como autodidata na Biblioteca Nacional (então no Chiado) e, ao mesmo tempo, como trabalhador com profissão de chefe comercial numa empresa de tratores, sem nunca ter posto os pés na universidade (pela qual tinha, aliás, muito interesse e não repúdio). Pinharanda Gomes acabou por conquistar a universidade, embora sem ser universitário e totalmente identificado com o grupo da filosofia portuguesa, obtendo o seu mais alto reconhecimento através do Doutoramento Honoris Causa que lhe foi atribuído pela Universidade da Beira Interior, no dia 20 de março de 2018. Esta obra dedicada ao pensador Jesué Pinharanda Gomes que colocamos nas mãos do leitor seria improvável há ainda não muitos anos atrás. E´ uma obra coletiva nascida em ambiente de cooperação interuniversitária e representa uma importante inflexão no âmbito dos debates sobre o pensamento e a cultura que tiveram lugar em Portugal, na relação íntima ou criticamente distanciada com o mapa de uma identidade consignada como nacional.