A perspetiva que aqui elegemos para tratar o conhecimento patológico não se submete a desígnios de forças transcendentes ou a raciocínios abstratos especulativos, que não sejam as relações que os próprios homens estabelecem uns com os outros no âmbito dos sistemas sociais a que pertencem. Assim, o conhecimento patológico é neste trabalho examinado como resultado expressivo da manipulação discursiva, já que comunicação e conhecimento se interinfluenciam de forma inequívoca. Por efeito de acumulação, o conhecimento patológico modifica as perceções do mundo e da vida humana e social e estas, por sua vez, alteram a ação dos indivíduos no mundo. Desta forma, desvirtuar o conhecimento da realidade, velha subtileza humana para coagir outros a percorrer intencionais caminhos de alguns poucos, tem como corolário impelir os outros a adotar aquilo que eles julgam ser o melhor para as suas vidas. A distorção, a descontextualização, o exagero, a omissão, a fusão de temas e de personagens, a desqualificação, a desconfirmação, a engenharia de factos sociais infundados, o excesso de informação que distrai ou provoca o ruído, o levantamento de suspeitas ou a difamação em momentos precisos e outros tantos mecanismos do género são presentemente o paradigma que norteia o quotidiano das sociedades mo-dernas. Como lidar com este monstro, qual leviatã, omnipresente mas invisível que nos aprisiona a mente, os sentimentos e a ação? Cremos que somente pelo permanente exercício da reflexão crítica, do confronto e da comparação de ideias e posições, do ceticismo metódico e da observação cuidada dos dados que nos chegam teremos possibilidade de alcançar a tão desejada liberdade individual e coletiva. Quando a liberdade nos sobrevém pela luz do conhecimento adequado, então somos inundados pelo sentimento de que caminhamos o nosso próprio caminho na busca da verdade!